terça-feira, 30 de setembro de 2008

Coração Partido


Crescia no coração do poeta um amor indomável que lhe dava medo.
Há muitos anos quando também perdeu suas asas para ser o guardião daquela que jurou amor eterno, ele tinha a certeza de que viveria um grande amor.
Anos depois, durante um parto complicado, sua esposa perdeu aquele que seria seu primeiro e único filho. O seu sonho de ser pai havia ido de água abaixo, pois sua esposa não poderia ter mais filhos.
E numa noite quando ambos voltavam de uma festa de aniversário sofreram um acidente, ficando ela paraplégica. Sem nenhum movimento da cintura para baixo, sendo preciso usar cadeira de rodas mesmo quando queria fazer suas pinturas, seu único passatempo desde então.
Havia também um problema causado pelo acidente que a deixava por vários dias em coma, os médicos não explicavam bem o problema, mas apenas falavam que em caso de cirurgia era 90% de risco de morte.
Ele a amava e sabia da sua dependência. Não poderia deixá-la nunca...e também não podia. Mas também como explicar aquele coração dividido, pois desde que conhece Renata, o seu anjo não sabia o que fazer.
Declarar o seu amor? Ou apenas amá-la em silêncio para não fazê-la sofrer?
Naquela manhã, durante um passeio no bosque para fazer algumas fotos, material de uma matéria sobre ecologia que publicaria no jornal local onde trabalhava de redator, ele avistou novamente o anjo passeando.
Seu coração bateu mais forte no peito quando ela acenou com as mãos.
Ninguém ali presente não percebeu, mas ela vinha levitando como todos os anjos, sobre a água do enorme lago que refletia sua imagem, fazendo o poeta sentir ciúmes de tanta intimidade.
Um sorriso meigo e inocente se desenhou no seu rosto quando o poeta segurou sua mão. Ela tremia e estava gelada. Era de uma pureza que fazia Vinicius, o poeta, ficar mudo, sem palavras. Mas após um breve silencio gaguejou:
- Onde você está indo?
- Estou indo ao orfanato cuidar de minhas crianças.
Ela coordenava um grupo de mulheres que cuidava de crianças órfãs. Um entidade gerenciada pelo clero.
- Posso ir com você?
Ela sorriu. Havia uma certa timidez em seu rosto. Ela passou sua mão sobre a dele e apenas falou.
- Eu queria, mas é bom mantermos uma certa distância.
Aquela frase teve dois momentos no coração do poeta: Um de felicidade porque ele percebeu que o anjo também sentia algo por ele e o outro de que ela relutaria bastante para que tal amor não aflorasse.
- Passei apenas para lhe ver.
- Não faça mais isso.
- Sei que ainda és anjo, mas poderá ser uma amiga.
- Não sei se conseguirei ser apenas amiga e não quero perder minhas asas. Tenho um objetivo na vida e preciso cumprir minha missão.
Quando ela saiu o deixou em pedaços. O poeta ainda fotografou-a caminhando sobre o lago e depois a viu sentada em silêncio, talvez chorando com o coração explodindo de dor.

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