segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CICATRIZ


Naquela noite de verão, a lua surgiu tão bela no céu carente de nuvens, que o lago permanecia em silêncio para lhe refletir em sua profundeza, era como se o lago quizesse uma lua só para ele. Mas aquele momento efêmero de solidão e posse, iria aos pouco fluindo de acordo que a noite se evaporasse em fios de madrugada.
As andorinhas, visitantes assíduos naquele fim de tarde e começo de noite, deveriam ter adivinhado algo que iria acontecer e do qual não queriam ser testemunhas. Até o silêncio que escorregava pela solidão que a lua despertava, petrificou-se, tamanha a sua magnitude.
O poeta, caminhava lentamente entre as árvores que desfolhavam-se como que planfletando o começo do outono, quando sentiu aquele perfume...o anjo. Seu coração parecia querer voar para fora do corpo em busca da amada que surgia na noite como um facho de luz. Ela não o percebeu e caminhva lentamente de encontro uma sombra que apareceu, não sabe se do útero da terra, ou do das entranhas da noite. O poeta o viu quando os dois trocaram um abraço e sentaram a beira do lago, onde um dia os dois se beijaram.
Houve um silêncio tão profundo em seu corpo que era como se seu coração houvesse parado por alguns segundo, que pareceram séculos, para depois acelerar querendo recuperar o tempo perdido ou quem sabe sair outra vez voando, só que desta vez não em busca do anjo, que não mais existia, mas para se perder no espaço a voar solitário como a lua.
"O meu anjo! oh!Deus arranca este meu coração e põem em seu lugar uma pedra. O amor não mais existe...ser poeta é acreditar infinitamente no amor, como se a vida fosse uma poesia, e não um lago tão belo, mas profundamente cheio de mistérios e surprezas."
"Amei um anjo que nunca existiu...mas eu vi suas asas!
"Ele me amou como nunca ninguém jamais me quis...Mas também me fez sofrer.
"Olhei nos seus olhos e vi o amor...chorei e sorri em suas asas brancas.
Nos olhos do poeta uma lágrima também espelhou a lua. A dor era tamanha, mas não maior doque a decepção! Mesmo assim continuo a sua caminhada, quando de repente seus olhos se algemaram por algum segundo e pela primeira vez na troca de olhar Deus não trocou suas almas, talvez pelo medo que havia nos olhos do anjo e a dor no coração do poeta.
E a cada passada que lhe distanciava dela, seu coração ia fluindo em lágrimas pelos olhos. Naquela noite quando a madrugada rabiscou os seus tons grafites no céu, ela o supreendeu reprizando aquele momento marcado à fogo para sempre em seu coração. Cicatriz.